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Poemas de Laurindo Rabelo

Poeta romântico e patrono da Academia brasileira de Letras, Laurindo Rabelo possui diversos poemas e separamos os melhores para você aqui no MCA!

08/07/1826 28/09/1864
A minha resolução Laurindo Rabelo

O que fazes, ó minh`alma!
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras
Te despreza, como ingrato,
Coração, sê mais sensato,
Busca outro coração!


Corre o ribeiro suave
Pela terra brandamente,
Se o plano condescendente
Dele se deixa regar;
Mas, se encontra algum tropeço
Que o leve curso lhe prive,
Busca logo outro declive,
Vai correr noutro lugar.


Segue o exemplo das águas,
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras
Te despreza, como ingrato,
Coração, sê mais sensato,
Busca outro coração!


Nasce a planta, a planta cresce,
Vai contente vegetando,
Só por onde vai achando
Terra própria a seu viver;
Mas, se acaso a terra estéril
Às raízes lhe é veneno,
Ela vai noutro terreno
As raízes esconder.


Segue o exemplo da planta,
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras
Te despreza, como ingrato,
Coração, sê mais sensato,
Busca outro coração!


Saiba a ingrata que punir
Também sei tamanho agravo:
Se me trata como escravo,
Mostrarei que sou senhor;
Como as águas, como a planta,
Fugirei dessa homicida;
Quero dar a uma alma fida
Minha vida e meu amor.


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Beijo de amor Laurindo Rabelo

Se me queres ver ainda,
Recobra da vida a flor;
Deixa remoçar-me a vida
Um beijo de teu amor.


De minha vida a ventura
Teus lábios guardam consigo,
Dá-me um só beijo e verás
Se é mentira o que eu te digo.


Como a flor, do sol a um beijo,
Se quiseres, podes ver,
A minha alma, semimorta,
Num teu beijo reviver.


De minha vida a ventura, etc.


Só esperá-lo me alenta,
Me conforta o fado meu;
Imagina só por isso
Quanto pode um beijo teu.


De minha vida a ventura, etc.


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As duas redenções Laurindo Rabelo

Ao batismo e liberdade de uma menina


Inda uma vez tanjamos
A lira, e mais um hino
Consinta-me o destino
Erguer nos cantos meus;
Que vá, de sons profanos
Despido e desquitado
Em vôo arrebatado,
Voando aos pés de Deus.


Da liberdade a estrela
No berço da inocência
Derrama a providência
De duas redenções;
Mostrando uma alma limpa
Do crime primitivo
No corpo de um cativo
Que quebra os seus grilhões.


Que assunto mais merece
Um hino de poesia?
Que dia tem mais dia?
Que feito tem mais Luz?
Do cativeiro um anjo
Quebrando infames laços,
À cruz estende os braços
E os braços lhe abre a cruz.


Perfilha Deus o anjo
Na filiação da graça,
E o ser que o crime embaça
Puniu a redenção!
E o homem, dissipando
Do berço insano agravo,
Em menos um escravo
Abraça um novo irmão!


Que foras, inocente,
Que foras, nesta vida,
Da escravidão perdida
No bárbaro bazar!?
Pobre rola ferida
Da infâmia pelo espinho,
Em que ramo, em que ninho
Te havias de aninhar?


Infante, sem afagos,
Temendo-te altiveza,
Querendo-te a vileza
Plantar no coração,
Dariam-te nos gestos,
Nas vestes, no aposento,
Na mesa, no alimento,
Somente - escravidão!


Donzela (oh! sacrilégio!)
Amor, qual flor sem viço,
Mil vezes é serviço
Que fero senhor quer!
É dor que o fel requinta,
Que a ímpia sorte agrava
Daquela que é escrava
Depois de ser mulher!


Se mãe (é mãe escrava!)
Quem sabe se verias
Teu filho mãos ímpias
Do seio te arrancar?
E surdos ao teu pranto
Mandarem-te com calma
Do seio da tua alma
A outro alimentar?!


Criança mas sem veres
Da infância as verdes cores,
Donzela sem amores,
Talvez alam sem Deus!
Não foras arrastada
Da vida pelos trilhos,
Nem tu, e nem teus filhos
Seriam filhos teus.


Ó vós que hoje lhe destes
O dom da liberdade,
Que junto à divindade
Matais a escravidão,
Ao trovador propícios
De ação tão excelente
Em culto reverente...
Guardai esta canção.


Eu sei que haveis guardá-la,
Que em tão santa amizade
Não vem a variedade
Deitar veneno atroz.
Sou vosso desde a infância:
Da vida até o fim
Sereis tanto por mim
Como serei por vós!


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Último canto do cisne Laurindo Rabelo

Quando eu morrer, não chorem minha morte,
Entreguem meu corpo à sepultura;
Pobre, sem pompas, sejam-lhe a mortalha
Os andrajos que deu-me a desventura.


Não mintam ao sepulcro apresentando
Um rico funeral de aspecto nobre:
Como agora a zombar me dizem vivo,
Digam-me também morto - aí vai um pobre!


De amigos hipócritas não quero
Públicas provas de afeição fingida;
Deixem-me morto só, como deixaram-me
Lutar contra a má sorte toda a vida.


Outros prantos não quero, que não sejam
Esse pranto de fel amargurado
De minha companheira de infortúnios,
Que me adora apesar de desgraçado.


O pranto, açucena de minh`alma,
Do coração sincero, da alma sã,
De um anjo que também sente meus males,
De uma virgem que adoro como irmã.


Tenho um jovem amigo, também quero
Que junte em minha Essa os prantos seus
Aos de um pobre ancião que perfilhou-me
Quando a filha entregou-me aos pés de Deus


Dos meus todos eu sei que terei preces,
Saudades, lágrimas também;
Que não tenho a lembrança de ofendê-los
E sei quanta amizade eles me têm.


E tranqüilo, meu Deus, a vós me entrego,
Pecador de mil culpas carregado:
Mas os prantos dos meus perdão vos pedem,
E o muito que também tenho chorado.


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Modinhas Laurindo Rabelo

Foi em manhã de estio
De um prado entre os verdores,
Que eu vi os meus amores
Sozinha a cogitar.


Cheguei-me a ela,
Tremeu de pejo...
Furtei-lhe um beijo,
Pôs-se a chorar.


Eram-lhe aquelas lágrimas
Na face nacarada
Perlas da madrugada
Nas rosas da manhã.


Santificada
Naquele instante,
Não era amante,
Era uma irmã.


Dobrados os joelhos
Os braços lhe estendia,
Nos olhos me luzia
Meu inocente amor.


Domina a virgem
Doce quebranto,
Seca-se o pranto,
Cresce o rubor.


Nestes teus lábios
De rubra cor,
Quando tu ris-te
Sorri-se amor.


Dos lindos olhos,
Tens o fulgor,
Se pra mim olhas
Raios de amor.


De teus cabelos
De negra cor,
Forjam cadeias
Brincando amor.


Neles pra sempre,
Servo ou senhor,
Viver quisera
Preso de amor.


Rosas que tingem
Fresco rubor
Nas tuas faces
Espalha amor.


Se de minh`alma
Com todo o ardor,
Chego a beijá-las
Morro de amor.
Tua alma é pura
Celeste flor,
Só aquecida
Por sóis de amor.


Já em ternura,
Já em rigor,
Dá vida e morte,
Ambas de amor.


Quando a perturba
Casto pudor,
Encolhe as asas
Tremendo amor.


Se do ciúme
Sente o fulgor,
Em mar de chamas
Se afoga amor.


Se me concedes
Terno favor
Terei por lume
Somente amor.


Porém no templo
Mandarei pôr
O teu retrato
Em vez de amor.


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O tempo Laurindo Rabelo

Deus pede estrita conta de meu tempo,
É forçoso do tempo já dar conta;
Mas, como dar sem tempo tanta conta,
Eu que gastei sem conta tanto tempo?


Para ter minha conta feita a tempo
Dado me foi bem tempo e não foi conta.
Não quis sobrando tempo fazer conta,
Quero hoje fazer conta e falta tempo.


Oh! vós que tendes tempo sem ter conta
Não gasteis esse tempo em passatempo:
Cuidai enquanto é tempo em fazer conta.


Mas, oh! se os que contam com seu tempo
Fizessem desse tempo alguma conta,
Não choravam como eu o não ter tempo.


Para do mundo dar completo cabo,
Lá do negro recinto o soberano
Meditava a forjar horrível plano
Coçando a grenha, sacudindo o rabo.


Merecedor enfim de imenso gabo,
Eis o que assim disse muito ufano:
Para a missão cumprir - digesto humano
Quero fazer - que nasça hoje um diabo.


E o 23 de maio nisso raia...
Teotônio nasceu, e a fama soa
Jamais ter visto infame dessa laia.


Pois para Satã ser mesmo em pessoa,
Traja, qual bruxa velha, negra saia,
Como o rei dos bandalhos tem coroa.


Vendo da peste o bárbaro flagelo
Mil vidas a ceifar a cada instante,
Da áfrica deixa o solo distante
E veio no Brasil curar Otelo.


O semblante imposto negro-amarelo
Cresta do orgulho a chama crepitante,
Traz cheia de vidrinhos o turbante,
E buído punhal por escalpelo.


Homeopata é, e o albergue puro
Do puro Martins busca e diz-lhe ardido:
"Doutor, eu quero ter vosso futuro."


- Bravo! grita o Martins enternecido;
Pelas cinzas de Hahnemann te juro
Que não hás de morrer desconhecido.


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