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Poemas de Olegário Mariano

Político, poeta e diplomata, Olegário Mariano foi um dos grandes poetas de sua geração. Separamos aqui no MCA as suas principais poesias, dê uma olhadinha e deixe seu dia mais poético.

24/03/1889 28/11/1958
A velha mangueira Olegário Mariano

No pátio da senzala que a corrida
Do tempo mau de assombrações povoa,
Uma velha mangueira, comovida,
Deita no chão maldito a sombra boa.

Tinir de ferros, música dorida,
Vago maracatu no espaço ecoa...
Ela, presa às raízes, toda a vida,
Seu cativeiro, em flores, abençoa...

Rondam na noite espectros infelizes
Que lhe atiram, dos galhos às raízes,
Em blasfêmias de dor, golpes violentos.

E, quando os ventos rugem nos espaços,
Os seus galhos se torcem como braços
De escravos vergastados pelos ventos.


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Arco-Íris Olegário Mariano

Choveu tanto esta tarde
Que as árvores estão pingando de contentes.
As crianças pobres, em grande alarde,
Molham os pés nas poças reluzentes.

A alegria da luz ainda não veio toda.
Mas há raios de sol brincando nos rosais.
As crianças cantam fazendo roda,
Fazendo roda como os tangarás:

"Chuva com sol!
Casa a raposa com o rouxinol."

De repente, no céu desfraldado em bandeira,
Quase ao alcance da nossa mão,
O Arco-da-Velha abre na tarde brasileira
A cauda em sete cores, de pavão.


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Noite sonora Olegário Mariano

Anoiteceu. Pelas montanhas veio
Lentamente o crepúsculo caindo ...
O céu, redondo e claro como um seio,
Ficou, de lindo que era, inda mais lindo.

O vale abriu-se em pirilampos cheio,
Luzindo aqui, e ali tremeluzindo ...
No regaço da treva, úmido e feio,
A natureza adormeceu sorrindo ...

As cigarras, na sombra, se calaram:
As árvores no bosque farfalharam
Na esperança de ouvi-Ias e de vê-las.

Caiu de todo a noite quieta ... Agora,
O céu parece uma árvore sonora
De cigarras cantando nas estrelas ...


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Renúncia Olegário Mariano

Renunciar. Todo o bem que a vida trouxe,
toda a expressão do humano sofrimento.
A gente esquece assim como se fosse
um voo de andorinha em céu nevoento.

Anoiteceu de súbito. Acabou-se
tudo... A miragem do deslumbramento...
Se a vida que rolou no esquecimento
era doce, a saudade inda é mais doce.

Sofre de ânimo forte, alma intranquila!
Resume na lembrança de um momento
teu amor. Olha a noite: ele cintila.

Que o grande amor, quando a renúncia o invade
fica mais puro porque é pensamento,
fica muito maior porque é saudade.


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Deslumbramento Olegário Mariano

É amor? Não sei. Esta intranquilidade,
Este gozo na dor, esta alegria
Triste que vem de manso e que me invade
A alma, enchendo-a e tornando-a mais vazia;

Este cansaço extremo, esta saudade
De uma cousa que falta à vida ... O dia
Sem sol, as noites ermas, a ansiedade
Que exalta e a solidão que anestesia,

É amor. Egoísmo de sofrer sozinho,
De as penas esconder do humano açoite,
De transformar as pedras do caminho

Em carícias sutis para colhê-las
E andar como um sonâmbulo, na noite,
Escancarando os olhos às estrelas ...


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Cigarra Olegário Mariano

Figurinha de outono!
Teu vulto é leve, é sensitivo,
Um misto de andorinha e bogari.
Num triste acento de abandono,
A tua voz lembra o motivo
De uma canção que um dia ouvi.

Quando te expões ao sol, o sol te impele
Para o rumor, para o bulício e tu, sorrindo,
Vibras como uma corda de guitarra...
É que o sol, quando queima a tua pele,
Dá-te o grande desejo boêmio e lindo
De ser flor, de ser pássaro ou cigarra

Cigarra cor de mel. Extraordinária!
Cigarra! Quem me dera
Que eu fosse um velho cedro adusto e bronco,
E tu, nessa alegria tumultuária,
Viesses pousar sobre o meu tronco
Ainda tonta do sol da primavera.

Terias glórias vegetais sendo vivente.
Mas um dia de lívidos palores,
Tu, cigarra, que vieste não sei donde,

Morrerias de fome lentamente
No teu leito de liquens e de flores
No aconchego sutil da minha fronde.

E eu, na dor de perder-te, no abandono,
Sem ter roubado dessa mocidade,
Do teu corpo de flor um perfume sequer,
Morreria de tédio e de saudade...
Figurinha de Outono!
Cigarra que o destino fez mulher!


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O Sol que canta Olegário Mariano

Quando a cigarra canta é o sol que canta.
Por isso o canto dela acorda cedo
E vai rolando com veemência tanta
Que enche as grotas, os campos e o arvoredo.

Desce aos vales, penetra na garganta
Da serra e acorda a pedra do rochedo.
Parece que da terra se levanta
Um punhado de pássaros com medo.

Em chispas de ouro e vibrações estranhas
Vibram clarins nas notas derramadas ...
Estilhaçam-se taças nas montanhas ...

E o sol, seguindo o canto que se alteia,
Deita fogo na poeira das estradas
E põe pingos de luz nos grãos de areia.


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A ovelha tesmalhada Olegário Mariano

A noite abriu, em céu estranho,
para adorá-las e querê-las,
um turbilhão tonto de estrelas,
lindas ovelhas de um rebanho.

O luar — pastor lírico, em breve,
surge e, apontando o seu cajado,
vai por montes e colinas de neve
guiando o rebanho mágico e doirado...

Mas uma ovelha tresmalhada
perdeu-se. O luar, em cólera, se espelha:
— Onde andará aquela ovelha
de olhos verdes, a mais amada,
de boca a mais vermelha?

“Onde andará?...” De serra em serra:
“Onde andará?...” Ansioso, avança,
como um doido pelas alturas...

E ela tranquila, aqui na terra,
com o nome lindo de Esperança
iludindo e matando as criaturas...


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Paganismos Olegário Mariano

Sinto às vezes horror do modo diferente
Com que em louca emoção voluptuoso te espio,
Meu suave amor que tens a figura inocente
De um lírio muito branco, um lírio muito frio.

Ao meu olfato chega o perfume doentio
Do teu corpo mudado em corpo de serpente:
E através desse aspecto anêmico e sombrio
Meu desejo passeia alucinadamente.

Fauno, os olhos boiando em volúpias bizarras,
Quem me dera que tu viesses, na noite escura,
Minha fronte adornar de crótons e de parras,

E na calma do bosque onde o meu sonho medra,
Unisses para sempre, entre o amor e a loucura,
Os teus lábios de sangue aos meus lábios de pedra.


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A cigarra morta

Ontem, Cigarra, quando veio a aurora,
acordei a vibrar com a tua vinda.
A tua voz tinha, de espaço fora,
notas tão claras que eu a escuto ainda.

Glorificando a luz consoladora,
cantaste, e enfim tua cantiga é finda.
Tenho nas minhas mãos, inerte agora,
teu corpo cor de mel. Cigarra linda.

Foste feliz, porque te deram esta
garganta de ouro. Assim, de palma em palma,
passou, num sonho, a tua Vida honesta...

Vendo-te, os meus sentidos se levantam,
esperando a cantiga de tua alma,
que as almas das Cigarras também cantam...


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