João Morgado

Perfeitas são as pessoas que ainda não conhecemos. Na vida real todos somos imperfeitos. Amar alguém, é ter a capacidade de amar esse alguém até à imperfeição, beber-lhe a imperfeição, tocar-lhe na imperfeição e, ainda assim, gostar do seu gosto, ansiar pelo seu toque.

Uma mulher inteligente, quando faz perguntas a um homem, já sabe todas as respostas. Quando um homem lhe mente, ela finge, apenas finge que acredita, porque a mulher é uma fingidora, finge tão completamente, que chega a fingir amor, sabendo que o amor lhe mente (…) Mas porque é dor o que deveras sente, a cada mentira que finge, apenas finge acreditar, torna-se mais seca, cada vez mais seca, até que um dia morre por dentro como morrem as plantas.

As mulheres gostam de olhar para uma traição como uma coisa sórdida – é mais fácil sentir nojo e até mais fácil de relevar. Mas que uma traição seja um ato sublime de amor com outro alguém, nenhuma mulher tem capacidade para perdoar – queima como um ferro em brasa. Porque a pele conspurcada lava-se com água e sabão, mas as marcas da alma, não!

A vida é tão efémera que só o desperdício da felicidade pode ser considerado um pecado sem perdão.

Dividindo o frio dos lençóis pelo número de corpos que dormem na cama, obtemos o nosso coeficiente de solidão.

Amar é beber um cheiro. É transporta-lo para dentro de nós. Amamos uma mulher quando cheiramos ao seu cheiro.

A paixão não morre pelo que se diz, mas sempre pelas palavras nunca ditas.

As lágrimas são o estado líquido de uma mágoa, o escorrer visível de uma dor.

Quando se perde tudo, perde-se também o medo...

Os silêncios tristes fecham janelas dentro das mulheres. Até que se perdem dentro da sua escuridão como numa câmara escura em que se revelam. Perdemos uma mulher quando ela sai de dentro de si por uma porta diferente da que entrou.

...descobri que os anjos têm carne temperada de desejo. Que são mortais e amam. Descobri que se pode amar um anjo terreno e ser sublime.

Agora, de regresso a teu lado, leio-te poesia. Deveríamos ter lido poesia sempre. Os dois. Juntos. O amor também é feito de palavras. Palavras que nos podem acariciar por dentro, onde as mãos não chegam, onde os beijos não alcançam.

As mulheres caladas são perigosas. Comem as palavras e transformam-nas em veneno (…) Devemos calar uma mulher com um beijo, mas nunca se deve beijar uma mulher calada. É perigoso, muito perigoso…

...descobri que afinal existe vida para além da morte, pois é possível renascer sem sair deste mundo. Renascer dentro de nós, num parto de alma.

Para fazer amor é preciso mais, muito mais, do que despir o corpo. É preciso despir o ser até à inocência. E nos entregarmos nus, despidos do mundo e sem medo de perder a alma.

Porque choras, pai? – perguntou a Dora. Não choro, filha, estou a dar de beber a um peixe que existe dentro de mim…. Dora colou-me os braços à volta do pescoço. Pai, és um poeta! – murmurou num sorriso. E tu um poema, respondi.

A vergonha é uma desordem cavada em nós, talvez a mais íntima das emoções, corre pelo sangue, devassa o coração, destila pelos olhos…

Mais triste que estar só, é ter alguém ao nosso lado a impedir que a solidão nos abandone, que alguém nos resgate.

Os silêncios não falam, mas por vezes dizem tanta coisa que, realmente, as palavras estariam sempre a mais.

Minha avó dizia: o prazer é um chá feito da raiz da dor. Como nos partos, dizia ela – em que as mulheres sofrem no momento mais belo das suas vidas. Acreditava que a essência das coisas era feita de contrários, de céu e de inferno... Por isso, digo eu, a menstruação é a parte do inferno que recorda às mulheres o seu pedaço de céu - serem férteis, fontes de vida… que é uma espécie de centelha de divindade! Há algo mais bonito?

...e a língua em gelo, mentolada, com o espumante a borbulhar-me no sexo guindado ao céu da sua boca, inflamava-me os sentidos. E sentia-me cada vez mais quente naquele beijo frio, que descia e subia, decalcando com os lábios as minhas veias, densas, em estado de guerra.

Dentro de uma mulher cabe um homem, cabe um filho, cabe o mundo inteiro se preciso for… menos as palavras. As mulheres não foram feitas para terem palavras dentro delas. Por isso falam tanto. Precisam falar para não morrerem envenenadas…

A memória da pele é breve comparada com a do coração.