Quando pus os pés pela primeira vez no chão, achei que nunca ia andar de novo. Parecia que não tinha mais pernas, sem força muscular. Depois, com a fisioterapia, a recuperação foi rápida.
O povo é uma coisa, o governo é outra. O povo é sempre bom em qualquer lugar do mundo. Os governos é que são terríveis. Apesar de que, quando canto lá fora, é mais para brasileiros.
O mundo, não só o samba, é machista. Melhorou bastante devido à luta das mulheres, mas a cada cinco minutos uma mulher apanha no Brasil. É um absurdo. Parece que está tudo bem, mas não é bem assim. Sempre fui ligada a movimentos libertários.
Força do Estado
Beth Carvalho
Faltou, por muitos anos, a força do estado nestas comunidades. Agora estão fazendo isso de maneira brutal e, de certa forma, necessária. Mas se não tiver o lado social junto, dando a posse de terreno para quem mora lá há tanto tempo, as pessoas vão continuar inseguras.
Brizola discutia por que não metem o pé na porta nos condomínios da Avenida Viera Souto (em Ipanema) como metem nos barracos. Ele não podia fazer milagre.
Existe uma grande rigidez a partidos de esquerda. Fizeram isso com o PC do B do Orlando Silva , e agora fazem com o PDT. Eles deveriam ser menos perseguidos pela mídia.
Cuba diz "me deixem em paz". Os Estados Unidos, com o bloqueio econômico, fazem sacanagem com um país pobre que só tem cana de açúcar e tabaco.
Cuba não precisa ter mais que um partido. É um partido contra todo o imperialismo dos Estados Unidos.
Personalidades
Beth Carvalho
Os americanos dormem e acordam pensando o dia inteiro em como acabar com Cuba. É muito difícil ter outro Fidel, outro Brizola, outro Lula.
Samba é resistência. Meu disco é uma resistência, não deixa de ser uma passeata: “Nosso samba tá na rua”.
Aqui a gente está acostumada a ter vários partidos e acha que isso é democracia.
Voltei a andar. Foi por pouco que quase deixei de andar para sempre. Foi um problema gravíssimo de saúde que eu tive (fissura do osso sacro). A outra sensação foi quando peguei o carro para dirigir. Aí, foi total liberdade.
Mulher no Samba
Beth Carvalho
A maioria dos sambistas é homem. Depois de mim, Clara Nunes e Alcione, as coisas melhoraram. O samba é machista, mas o papel da mulher é forte.
O samba é matriarcal, na medida que dona Vicentina, dona Neuma, dona Zica comandam os bastidores da história. Eu, por exemplo, sou madrinha de muitos homens.
Olha, sou presidente de honra do PDT porque é um título carinhoso que Brizola me deu, mas não sou filiada ao PDT.
Tem uma mídia aí que acaba com você. Existe uma censura. Não tem quase nenhum programa de TV ao vivo que nos permita ir lá falar o que pensamos. São todos gravados. Você não sabe que vai sair o que você falou, tudo tem edição. A censura está no ar.
A cada cem anos você tem um Pixinguinha, um Cartola, um Vinicius de Moraes... A mesma coisa na liderança política.
Aqui no Brasil o governo pode fazer a mesma coisa, televisão aberta é concessão pública. Por que vou dar concessão a quem deu um golpe sujo em mim? Tem todo direito de não dar.
Eu só acredito no modelo socialista, é o único que pode salvar a humanidade. Não tem outro.
Falta de Liberdade
Beth Carvalho
Eu não me sinto com liberdade de expressão no Brasil. Porque existe uma ditadura civil no Brasil. Você não pode falar mal de muita coisa.
Hoje dificilmente se consegue senhoras para a ala das baianas nas escolas de samba. Elas estão nas igrejas evangélicas, proibidas de sambar. Não se vê mais garoto com tamborim na mão, vê com fuzil. O samba perdeu espaço para o funk.
Acabar com o Samba
Beth Carvalho
A CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA), que quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura.
Estas armas dos morros vêm de onde? Vem tudo de fora. Os Estados Unidos colocam armas aqui dentro para acabar com a cultura dos morros, nos fazendo achar que é paranoia da esquerda. Mas não é, não.
Nunca tive ressentimento com a comunidade da Mangueira. Sei que eles me amam. Meu problema foi com uma diretoria de meia dúzia que fez aquela palhaçada. A maioria dos mangueirenses ficou envergonhado com a situação.
Meu negócio é a música. Não interessa quem fez. Se é boa, eu gravo. Sou madrinha de muita gente e por sorte os afilhados todos deram certo. Agora, tenho novos afilhados, como o Edinho do Samba e outra rapaziada jovem.