Eu vivo do meio, mas não vivo no meio. Sempre gostei disso. Gosto da música pela música, independentemente de ter que aparecer em lugares badalados. Gosto do Jorge autor, não do Jorge intérprete. Porque ele tem que fazer caras e bocas, tem que colocar um sapato direitinho.
Escrever e se emocionar
Jorge Aragão
Quando eu escrevo, quero me emocionar. Eu não quero música para tocar no rádio, quero música que me dê prazer. Quero chorar com meus personagens. Só assim que eu sei escrever.
Autoconhecimento
Jorge Aragão
Eu sei das minhas condições, dos meus desejos, das possibilidades da minha música e da intenção de melhorar sempre, de me aperfeiçoar.
Foi justamente através da internet que me interessei por esse processo complexo chamado globalização. A internet foi, de fato, a minha porta de entrada nesse universo virtual. O meu apreço pelo rompimento das limitações das distâncias físicas vem desde garoto e me faz lembrar dos tempos idos, quando eu gostava de saber o que estava acontecendo fora do Rio de Janeiro. As cidades tinham sempre as suas rádios difusoras, que anunciavam os produtos à venda na farmácia da rua Central, e que o meu radinho de ondas curtas sintonizava e me levava para os lugares mais diversos. Hoje a internet é o veículo que tem exatamente essa mesma propriedade de romper as distâncias, de aproximar.
Achava que minhas letras não tinham a ver com a garotada. Escrevo para o nego véio, a turma do samba.
Eu sai para continuar como autor, nunca sai para fazer uma carreira solo. Só para compor.
Inspiração para compor
Jorge Aragão
Eu olho para todo mundo como um gerador potencial de música. Olho para as relações a minha volta. Vejo quem está com desamor, quem está amando, quem está apaixonado. Estou sempre atento as reações e a música para mim é como uma fotografia. Eu guardo o negativo e levo comigo para escrever sobre determinado assunto. A partir do negativo, eu começo escrever. Guardo sempre comigo um material para ter uma essência para trabalhar e escrever.
Intérprete do autor
Jorge Aragão
Eu não sou artista. Sou compositor. Não sou cantor, mas sim intérprete do autor.
Quando comecei, Roberto Ribeiro já tocava nas rádios, seu nome era conhecido e respeitado no universo do samba do Rio de Janeiro e suas agremiações. Eu espelhei-me nele, na sua refinada elegância, desde a escolha do repertório ao seu estilo de interpretação. Tudo o que faço hoje é uma continuação do que vi e aprendi com Roberto Ribeiro. Por ocasião do começo do Fundo de Quintal, do qual sou fundador, Roberto Ribeiro era a nossa maior fonte.
Hiperexposição
Jorge Aragão
A hiperexposição pode também ser negativa.
Estar na estrada
Jorge Aragão
Sempre foi muito legal, sempre foi naturalmente musical.
Eu só encontro pessoas que estão fazendo e procurando manter tudo como era antigamente. Existe claro uma célula do samba que é tocada no rádio. Se ela está ali é porque está dando retorno. Quando eu vou para rua para ouvir meus iguais e no caminho até lá sei que vou ouvir algo paralelo no rádio. Mas o que você ouve no rádio não está tocando numa roda de samba. Acho que tem espaço para todo mundo no mundo. Temos que deixar cada um viver.
Gosto muito da vida de Brasília, de como ela é amada e odiada ao mesmo tempo. Tem um sentimento ambíguo. A paixão total e não querer se apaixonar. Tudo isso eu amo. Sou muito feliz com Brasília, por exemplo, nunca reparei essa história de não ter esquina. É um povo com quem me sinto bem.