Criar uma série como esta é um equilíbrio entre "temos um plano" e "não temos um plano".
Eu ouvi de alguns roteiristas que eles não poderiam fazer isso com qualquer personagem. Que precisava ser alguém que as pessoas amavam e com quem se importavam — sinto muito. Poussey vem de uma família amada, as pessoas se importavam com ela, e até a sexualidade dela foi abraçada pelo pai. E assim como muitos jovens, ela acabou caindo nas coisas erradas. Mas a sua vontade e o seu potencial de fazer alguma coisa dela mesma, e tirar essa parte dela — é um elemento muito poderoso da televisão.
A preparação e o estudo do papel é bem pessoal. Para mim, no início da carreira eu tinha todas essas ideias de quantos livros eu poderia ler para me preparar, quantos documentários eu deveria assistir ou com quantas pessoas eu tinha que conversar.
De certa maneira, é diferente de tudo que eu já vivi, e isso foi confirmado na Parada. Muitas dessas pessoas sentem que o programa é delas. Elas o encontraram e ele é delas, e é delas. Agora é o momento para esse programa retratar todos que se sentem mal representados.
Eu conversei com uma outra repórter que disse que tinha assistido aos episódios e disse que o estômago dela doeu tanto que ela sentiu que iria vomitar enquanto via. Se nós estamos fazendo as pessoas se sentirem assim apenas com uma série de TV, então esse é o tipo de televisão que eu quero fazer. É o tipo de arte que eu quero fazer. Fazer as pessoas sentirem as coisas profundamente que as afeita de alguma forma. Saber que nós podemos alcançar essas reações é incrível.
Em 20 anos vamos para trás e ver que absurdo é não deixar as pessoas se amarem.
O que fazemos como artistas é nossa responsabilidade: a arte reflete a vida, a vida reflete a arte.
Se tem uma coisa que Jenji [Kohan, criadora] e os roteiristas fazem bem, e fizeram particularmente bem dessa vez, é mostrar o quão complicado tudo é, é mostrar que às vezes pessoas más fazem coisas boas e pessoas boas fazem coisas más. Não é necessariamente preto e branco.
Muitas pessoas nunca viram representações reais e autênticas delas mesmas na televisão.