Estou sentindo novamente aquela coisa. Aquela coisa que só senti uma única vez antes. Ano passado na caverna, quando estava tentando fazer com que Haymitch nos enviasse comida. Beijei Peeta umas mil vezes durante aqueles Jogos e depois. Mas houve apenas um beijo que fez com que eu sentisse algo se agitando bem dentro de mim.
Jogos Vorazes
Suzanne Colins
Matar ou morrer. Não há escolha. Na arena, o mais capaz vence. Os Jogos Vorazes continuam!
- Peeta, como é que pode eu nunca saber quando você está tendo um pesadelo? - digo.
- Não sei. Acho que não grito e nem esperneio, ou qualquer coisa assim. Fico paradinho, paralisado de terror, e só - diz ele.
Últimos Dias
Katniss e Peeta
- Então o que a gente devia fazer nos nossos últimos dias?
- Só quero passar todos os minutos possíveis do resto da minha vida com você. - responde Peeta.
- Vem cá, então - digo, puxando-o para o meu quarto.
Importância da Vida
Peeta
Se você morrer, e eu continuar vivo, acaba a vida pra mim no Distrito 12. Você é toda a minha vida - diz ele. - Eu nunca mais seria feliz. - Começo a me opor, mas ele coloca um dedo nos meus lábios. - Para você a coisa é diferente. Não estou dizendo que não seria difícil. Mas existem outras pessoas que fazem com que a sua vida valha a pena ser vivida.
Porque, obviamente, não consigo distinguir um amigo de um inimigo.
Vestida toda de preto, exceto pelos pedacinhos brancos em minhas mangas. Ou será que deveria dizer asas?
Deixe-os ir, digo para mim mesma. Diga adeus e os esqueça. Eu tento meu melhor, pensando neles um por um, libertando-os como pássaros da cela protetora dentro de mim, trancando as portas para eles não retornarem.
Mas não estou nua. Estou num vestido com o exato desenho de meu vestido de casamento, só que da cor de carvão e feito de pequenas penas. Surpresa, levanto minhas longas e fluidas mangas no ar, e é aí que vejo a mim mesma na tela da televisão.
Ele poderia ter escolhido qualquer mulher . Mas escolheu a solidão . Solidão, não - isso soa tranquilo demais. A coisa é mais um confinamento solitário.
E eu adoro isso. Poder finalmente ser eu mesma.
Ainda estou encostada no vidro quando a brisa atinge meus cabelos e me forço a ficar na posição ereta. Bem na hora, porque o vidro está recuando e estou em pé na arena. Alguma coisa está errada com a minha visão. O solo está brilhante demais e continua ondulando. Estreito os olhos em direção aos meus pés e vejo que meu prato está cercado por ondas azuis que sobem por cima de minhas botas. Lentamente, levanto os olhos e consigo distinguir a água se espalhando por todas as direções.
Só consigo formar um único pensamento claro.
Esse não é um lugar para um garota em chamas.
Não é necessário. Meus pesadelos normalmente têm a ver com perder você. Eu fico legal logo que percebo que você está aqui.
Eles podem enfiar o que quer que desejem em meu braço, mas é necessário muito mais que isso para manter uma pessoa viva, uma vez que ela perdeu a vontade de viver.
Seguro a pérola na palma da minha mão e examino sua superfície iridescente á luz do sol. Sim, vou ficar com ela. Pelas poucas horas que me restam da vida, vou ficar com ela bem grudada em mim. Este último presente de Peeta. O único que realmente posso aceitar. Talvez ela me dê força nos momentos finais.
O pedido de desculpas dele me pega de surpresa. É verdade que Peeta se afastou de mim depois que confessei que o meu amor por ele durante os Jogos era apenas uma encenação. Mas não cobro isso dele. Na arena, desempenhei o papel romântico em todos os sentidos. Havia momentos em que eu francamente não sabia o que sentia por ele. E, na verdade, ainda não sei.
Peeta me coloca na cama e me dá boa noite, mas pego a sua mão e não o deixo sair, não quero que ele vá embora. Na realidade, quero que ele se deite na cama comigo, que esteja ao meu lado quando os pesadelos chegarem.
Quando acordo, tenho uma breve, porém deliciosa, sensação de felicidade que está de uma forma ou de outra conectada com Peeta.
Gostaria muito de poder congelar esse momento, bem aqui, nesse instante, e viver assim para sempre.
- Isso precisa acabar. Agora. Esse… esse… joguinho de vocês dois ficarem contando segredos um para o outro e escondendo de mim como se eu fosse uma pessoa inconsequente, ou idiota ou fraca demais para lidar com eles.
- Não é bem assim, Peeta… - começo.
- É exatamente assim! - ele berra comigo. - Também tenho várias pessoas de quem eu gosto, Katniss! Família e amigos no Distrito 12 que vão morrer exatamente como as de que você gosta se a gente não resolver isso aqui. Quer dizer então que, depois de tudo o que a gente passou na arena, não tenho nem direito de ouvir a verdade de você?
- Porque você não vai dormir um pouco? - diz ele.
Porque eu não sei como lidar com os pesadelos. Não sem você, penso.
E a ideia de perdê-lo para sempre, meu melhor amigo, a única pessoa a quem confiei meus segredos, era tão dolorosa que eu mal conseguia suportar. Não depois de tudo o mais que havia acontecido.
Lembrem-se, vocês não estão mais num ringue cheio de crianças tremendo de medo. Todos eles são assassinos altamente experientes, independentemente da forma física na qual pareçam se encontrar.
Em vez de me satisfazer, os beijos têm o efeito oposto. Fazem com que minha necessidade seja ainda maior. Pensava ser uma especialista em fome, mas essa fome aqui é de um tipo totalmente diverso.
As fagulhas se acendem, as chamas se espalham e a capital quer vingança.
Desde que acordei hoje de manhã, assisti a Cinna sendo brutalmente agredido, aterrissei em uma outra arena e vi Peeta morrer.
Katniss, o Distrito 12 não existe mais.