Eu ignoro as expectativas dos fãs. Primeiro, porque não existe uma massa uniforme de fãs, cada um tem uma expectativa. Se eu fosse pensar, estava liquidado, que fã é esse?
RoboCop e política
José Padilha
Falei que queria fazer sobre a política dos drones, a substituição de soldados por robôs e o impacto que isso pode ter na geopolítica. Fazer um longa com conteúdo, e não só de entretenimento. Dois dias depois, entraram em contato com o meu agente querendo que eu fizesse o filme.
O Bráulio [Mantovani, roteirista dos dois filmes] me ligou um dia desses, porque alguém estava fazendo uma reportagem e queria saber como a gente cria os bordões. A gente não cria porra nenhuma! Nós escrevemos o roteiro, mas se o público transforma isso num bordão não é algo que fazemos conscientemente.
Para que serve o treinamento do BOPE? É uma doutrinação. Eles são doutrinados até perder a capacidade de pensar criticamente. O objetivo do homem de preto é entrar na favela e deixar corpos no chão. E é isso. Sou caveira e não vou pensar no que estou fazendo.
RoboCop e violência
José Padilha
Robocop é um personagem que traz a seguinte ideia filosófica: quando se automatiza a violência, abre-se a porta para o fascismo. Mas também se pode pensar nisso de outra maneira, talvez, mais relevante.
Quando as pessoas não conseguem ser doutrinadas, elas enlouquecem. Essa ideia de tirar o senso crítico e desumanizar a tropa está embutida na ideia do Robocop.
Humano e máquina
José Padilha
O que o Paul Verhoeven (diretor do filme original, de 1987) fez foi mostrar que a melhor maneira de desumanizar um policial é tirar o ser humano e colocar uma máquina. A desumanização fica completa e perfeita. Quando se automatiza, as portas ficam abertas para uma corporação ou governo fazer o que quiser, sem crítica do soldado ou do policial.
Administração Policial
José Padilha
A análise da administração da polícia é essencial. Dizer se ela deve acabar é uma posição bastante utópica e difícil, pois não aconteceu em lugar nenhum do mundo.
Na medida em que a tecnologia vai evoluindo e as máquinas começam a fazer o que nós fazemos, essa questão teórica da filosofia começa a ficar concreta. Esse personagem, o Robocop, se presta a debater isso.
Olha, é muito difícil fazer comédia com a Fox, porque ela mesma já é uma comédia.
Soldados e robôs
José Padilha
Os Estados Unidos saíram do Vietnã e do Iraque porque soldados estavam morrendo. Se houver robôs em vez de soldados, o que acontece? Essas guerras teriam acabado? Essa é uma questão séria.
Design do RoboCop
José Padilha
Em vez de discutirem se os Estados Unidos devem usar drone ou não, se a política externa é fascista ou não, a maior parte das pessoas fica discutindo que esse RoboCop é preto e o outro era prateado.
Corporativo e Público
José Padilha
É evidente que o espaço corporativo e o espaço público estão sobrepostos no mundo inteiro.
RoboCop e tecnologia
José Padilha
No RoboCop que a gente fez, que se passa no futuro, a tecnologia necessária para produzir robôs capazes de substituir soldados na guerra ou policiais no combate ao crime já se desenvolveu a ponto de isso ser factível e os EUA, no filme, decidem que vão utilizar soldados robôs.
Qualquer sociedade que passa de tribal para uma de estado, historicamente, desenvolve algum tipo de organização policial. É um fato. A polícia não é um detalhe de uma sociedade. Não existe sociedade moderna em que não exista polícia. Existe polícia nas sociedades comunistas e capitalistas.
Capitão Nascimento
José Padilha
O Capitão Nascimento diz, no Tropa de Elite 2, que a PM do Rio de Janeiro tem que acabar. Entre as pessoas que defendem o fim da polícia está o Capitão Nascimento, um ícone policial.
Ideia do RoboCop
José Padilha
Fui chamado para uma reunião na MGM. Eles queriam que eu fizesse um filme sobre o Hercules. E na sala tinha um pôster do primeiro RoboCop. Aí, falei pros caras: “Hercules eu não quero fazer, mas esse aí, sim!”, e apontei pro cartaz.
Não estou desesperado para fazer um filme em Hollywood. Vou fazer um filme que me interesse.
Tropa de Elite 2
José Padilha
Eu acho que Tropa de Elite 2 é o que me falta para falar sobre segurança pública no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro. Não estou esgotando o assunto, mas estou apenas completando o que eu quero dizer, que é muito menor que a complexidade da polícia no mundo real.
Em Ônibus 174, eu falo sobre como o Estado participa na formação da violência pelo lado dos criminosos, dos marginalizados, como os meninos de rua são maltratados, como a Febem não funciona e as cadeias estão lotadas.
Filme Político
José Padilha
Fazer um filme político, de estúdio, é muito difícil.
Violência e Sexo
José Padilha
Não acho que a violência ou sexo em um filme sejam um valor em si. Não é porque ele é mais violento que será melhor. Isso é uma besteira. A quantidade de violência, sexo ou qualquer coisa que se mostre precisa ser coerente com a lógica interna do que será contado.