Infelizmente o preconceito contra LGBTs ainda está enraizado em nossa sociedade. Mesmo que nos consideremos "desconstruídos", todos nós estamos sujeitos a acabar verbalizando um pensamento transfóbico. Isso acontece por conta da estrutura social em que vivemos, na qual travestis e transexuais são frequentemente oprimidos ou questionados de forma invasiva e colocados à margem da sociedade. Muitas de nossas falas ou atitudes podem ser extremamente problemáticas e ofensivas, mesmo que não seja, particularmente, nossa intenção. Faça sua parte para que consigamos combater a transfobia! Saiba quais são as coisas que não devemos dizer a travestis e transexuais e entenda os motivos.
Perguntar o nome de batismo
Pode parecer inofensivo, mas é muito indelicado perguntar o nome de batismo para travestis e transexuais. São nomes que não geram identificação com quem eles realmente são. Além disso, na maioria das vezes, pode gerar um grande gatilho emocional e trazer traumas ainda não curados. Pior ainda é quando chamam o nome de batismo de “nome verdadeiro”. O nome verdadeiro é aquele que a pessoa escolheu e que condiz com sua identidade.
É muito comum ouvir por aí frases como “Cuidado, que aquela mulher é uma cilada”, dando a entender que a mulher trans não é uma mulher de verdade. Travestis e transexuais não estão tentando “enganar” ninguém. São apenas pessoas vivendo suas vidas e procurando por relacionamentos como qualquer outra pessoa. Elas não são “ciladas” ou “armadilhas”. Respeite o corpo que elas têm.
Negar a identidade
Se a pessoa se apresentou para você como mulher, como homem, como travesti ou como que for, respeite essa identidade! Não importa sua opinião sobre o assunto – guarde-a para si. Ou melhor: eduque-se sobre o assunto e aprenda que a identidade de gênero é extremamente válida para a ciência contemporânea. Se tiver alguma dúvida, pergunte educadamente com quais os pronomes que ela gostaria de ser tratada ou então procure utilizar pronomes neutros.
Presumir a orientação sexual
Acreditar que todo homem trans é, na verdade, lésbica e toda mulher trans/travesti é gay é extremamente preconceituoso e ignorante. Identidade de gênero não tem nenhuma relação com a orientação sexual, apesar de serem todos considerados como “minorias sexuais”. Homem trans não pode ser lésbica porque apenas mulheres têm essa denominação, mas eles podem ser gays, héteros ou bissexuais, assim como as mulheres trans/travestis.
Travestis e transexuais não são antônimos de beleza. Em primeiro lugar, a beleza é algo plural, e cada pessoa tem sua própria definição de algo ou alguém bonito. Dessa forma, as pessoas do mundo são belas. Em segundo lugar, ainda que as revistas e as passarelas excluam as pessoas trans de seu universo, muitas delas têm a beleza-padrão, assim como as pessoas cis. Portanto não presuma que elas sejam necessariamente feias e não se surpreenda com sua beleza.
Chamar de hermafrodita
Transgeneridade não é a mesma coisa que hermafroditismo. Para começar, só outras espécies podem ser consideradas hermafroditas. Entre os humanos, a condição biológica de ter características de ambos os sexos é chamada de “intersexualidade”. A transgeneridade, por sua vez, trata-se da pessoa que não se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer. Desse modo, uma pessoa trans também pode ser uma pessoa intersexo, mas não necessariamente.
É claro que a violência faz parte da realidade das travestis e pessoas transexuais, e elas sabem muito bem disso. Portanto, a não ser que você tenha intimidade com essa pessoa, e o momento permita um assunto tão pesado, não tem necessidade de lembrá-las dessa face tão sombria de suas vidas. Elas são mais do que uma estatística de violência: são seres humanos, que só querem viver suas vidas.
Pressupor que trabalham com prostituição
Ainda que a maioria das travestis e transexuais trabalhem com prostituição, nem sempre é o caso. Associar as duas realidades é bastante ignorante, ainda que as trabalhadoras sexuais também mereçam respeito. Além disso, ainda que a maioria seja trabalhadora sexual, essa é uma condição imposta pela transfobia, e não necessariamente por escolha própria. Por isso, é tão importante oferecer oportunidade de trabalho para pessoas trans.
Falar “cirurgia de mudança de sexo” mostra sua ignorância sobre o assunto e pode ser bastante ofensivo, pois ninguém “muda de sexo”. Ainda que esse nome tenha sido comum antigamente, atualmente utiliza-se o termo “cirurgia de redesignação sexual”, uma vez que sua função é adequar o órgão sexual ao gênero da pessoa. Vale lembrar que comentários sobre o corpo da pessoa trans não são bem-vindos sem a devida intimidade.
O corpo e a vida sexual das travestis e transexuais não são públicos, portanto fazer comentários sobre esses temas é extremamente inadequado. Por exemplo, se você acabou de conhecer a pessoa, não faz sentido perguntar como ela se relaciona sexualmente. Se você possui curiosidade, existem vários livros sérios que falam do assunto – basta procurar. Mas não há necessidade de constranger pessoas trans com esse tipo de comentário inapropriado.