Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que ainda posso ir
Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.
A Aurora de Nova Iorque
Chico Buarque
A aurora de Nova Iorque tem
Quatro colunas de lodo
E um furacão de pombas
Que explode as águas podres.
Que saudade é o pior tormento, é pior do que o esquecimento, é pior do que se entrevar...
Morena Bela
Chico Buarque
No jardim da minha casa um pé de rosa eu vou plantar
Só não caso com você
Se papai do céu não deixar.
Mesmo em sonho estive atento para poder lembrar-te sempre.
Vê-la apreciar um texto meu sem saber que o era, seria quase como vê-la se despir sem saber que eu a estava olhando.
Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz.
Pela minha lei, a gente seria obrigado a ser feliz.
Também acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus.
As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem.
O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração.
Água nova brotando e a gente se amando sem parar.
O meu amor tem um jeito manso que é só seu, que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos.
Te perdoo por te trair.
Fico triste quando alguém me ofende, mas com certeza, ficaria mais triste se fosse eu o ofensor... Magoar alguém é terrível!
Malandro quando morre
Chico Buarque
Cai no chão
Um corpo maltrapilho
Velho chorando
Malandro do morro era seu filho.
Amor urgente
Chico Buarque
Amaram o amor urgente
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade...
Desconfiança
Chico Buarque
Eu sempre desconfiei, desde garotinho, que eu iria ficar velho.
Desencontro
Chico Buarque
Sobrou desse nosso desencontro um conto de amor sem ponto final.
Todo dia ela faz tudo sempre igual: me sacode às seis horas da manhã, me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã.
Quero inventar o meu próprio pecado. Quero morrer do meu próprio veneno.
É uma cova grande pra teu pouco defunto mas estás mais ancho que estavas no mundo.
Quem me vê sempre parado, distante, garante que eu não sei sambar. Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.
Ouça um bom conselho que eu lhe dou de graça: inútil dormir, que a dor não passa.
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz... Ao sentir que sem você eu passo bem demais.
Você domina as palavras não ditas, porém está subordinado aquelas que pronunciou.
Mas quando eu tanto precisava, meu amor, como é que é? Onde é que você estava?
Os meus males são pequenos. Vivo bem, não é pra menos que você vem me encontrar.
Amo tanto e de tanto amar, acho que ela é bonita.
Ela faz cinema. Ela é a tal. Sei que ela pode ser mil, mas não existe outra igual.
Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu.
O amor não tem pressa, ele pode esperar.