Acho muito legal que existam artistas que buscam viver a vida.
Humanidade
Fernanda Takai
Esse contato com novos artistas é ótimo. Mantém a humanidade.
Pessimismo
Fernanda Takai
Fico feliz por ser admirada por artistas que também admiro. As pessoas são todas tão pessimistas em relação à música, sabe?
Sim, é aquele kit de hotel. Eu sempre levo um, porque a gente gasta mesmo. Sai botão, abre um buraquinho na saia, a gente tem que arrumar.
Quem não se apresenta em shows, praticamente não tem renda. Quem vive só de direitos autorais e não é um grande nome, enfrenta a falta de prestação de contas generalizada. Isso é cruel. As pessoas tinham que viver dignamente de suas criações.
Formatar o som pro que as pessoas estão ouvindo também é um erro. É incrível mas muita banda me pede pra ouvir o CD e dar sugestões sobre repertório, jeito de cantar... Acho que cada artista tem gostar muito e acreditar na sua música, sem ficar mudando aqui e ali por causa do mercado. Tem que dar uma chance à música como ela é. E ter uma boa dose de acaso.
Costumo dizer que as bandas novas não precisam de ninguém dizendo pra elas o que devem ou não fazer. Os erros e acertos na carreira sempre acontecem de um jeito diferente pra cada um.
Autodidata
Fernanda Takai
Não tenho formação teórica. Fiz aulas de violão pra aprender a ler as cifras apenas, mas foi muito bom pra eu ser capaz de tocar as músicas que mais gostava e também começar a compor as minhas canções. No Pato Fu faço apenas base no violão ou guitarra, nada complicado. Em meu show solo, apenas canto.
É daí que vem a ideia, da observação. Seja para música, para um texto… Só saindo pro mundo, ficando aberto. Quando o Pato Fu vai para algum lugar eu já me programo para ir num mercado, numa praça, num museu. Faço uma mini-excursão.
Sempre gostei de música mas nunca pensei que fosse viver de música. Fiz faculdade na UFMG, sou formada em Relações Públicas, trabalhei na área e gosto muito de Comunicação em geral. A música ocupava um espaço de quase hobby na minha vida e de repente passou a tomar mais tempo do que eu previa. Foi tudo muito gradual.
A gente sempre se encontrava e falava de um dia fazer algo junto. Sabíamos que ia acontecer, mas não quando. Um dia eu falei com ele “vamos fazer algo… agora!”. Nesse disco fui eu que sempre dei o start, começar a fazer acontecer, a cobrar.
Curiosidade
Fernanda Takai
Minha conexão com isso é de dar as mãos. Quando os artistas se unem, acho que o público dá uma outra chance, nem que seja pela curiosidade.
Eu fiquei três anos viajando. Muita coisa mesmo. Acho que mais de 100 shows.
Eu nunca quero fazer a mesma coisa que outras pessoas fizeram, e mesmo que eu faça, eu tento ser um pouco diferente.
Carreira Solo
Fernanda Takai
Eu queria mostrar o meu jeito de fazer disco, com as minhas músicas também, mas sem deixar de lado as músicas dos outros que fazem parte importante do todo. Por exemplo: eu não consigo fazer um show só com as músicas novas. Poderia fazer, conceitualmente, mas como público eu espero uma hora em que apareça “aquela música”.
Acho que a música que faço não se prende à geografia.
Sou uma pessoa mais indoor, não me apego muito à natureza ou raízes pra compor. Talvez seja esse lado pop que é mais universal.
Estagnação
Fernanda Takai
Não penso que o cenário esteja parado criativamente falando. Continuo a comprar discos interessantes e a ver muito artista novo aparecendo. Tanto aqui quanto lá fora. O que existe é uma dificuldade em se gerar receita com a música que se faz.
Se os grandes meios não dão muito espaço, hoje temos a internet como aliada pra dar mais visibilidade a novos e velhos artistas. O público que gosta de ter mais de uma fonte de informação vai achar coisas legais. Quem só ouve uma rádio jovem, vai ficar com as mesmas 30 músicas rodando na cabeça.
Inteligência
Fernanda Takai
Eu estudei em colégio católico e tocava ela na aula, na verdade foi com essa música que eu toquei pela primeira vez (Amar Como Jesus Amou). Eu conheci o Padre Fábio de Melo num programa de TV e na hora pensei que ele seria a pessoa certa para gravar comigo. Ele é culto, inteligente e canta de verdade.
Quando eu comecei no Pato Fu já era assim. Temos ótimos exemplos de mulheres como líderes de bandas, de bandas de mulheres. Não devemos nada em qualidade, só em quantidade. Gosto da Pitty e da Paula Toller, são gerações diferentes, sons diferentes, mas com uma qualidade feminina muito boa e com inteligência. Assim como a Marina Lima.
Amigos e Discos
Fernanda Takai
Amigos são raros e discos, inesgotáveis. Ter muitos discos é preciso para os muitos humores que temos… Acabo ouvindo de tudo. Nossos discos são nosso tempero, nossos amigos, porto seguro.
Provavelmente a gente lance outro clipe com algumas coisas que a gente filmou – estamos montando esse quebra-cabeça. Quero que ele fique bastante conhecido quando eu for para a estrada, porque quero tocar ele quase todo nos shows.
Formação da Banda
Fernanda Takai
nesse momento acho que preciso de músicos, não artistas que tenham trabalho próprio, sabe. Cheguei a essa conclusão há pouco tempo. Então estou formando a banda, e só sei que quem deve ficar comigo por enquanto é o Lulu Camargo. Porque ele gravou o disco comigo e é um cara que só toca no Pato Fu. É o único fixo. Já o John eu não sei…
Shows Curtos
Fernanda Takai
Eu gosto de show curto! No máximo uma hora e vinte. Tento pensar no lado plateia, sabe.
A opinião das pessoas está mais visível hoje e todo mundo acha que tem o direito de falar sobre qualquer coisa, e há comentários bons, mas há outros em que fica perceptível que existe um não conhecimento da coisa, ou um mau humor, ou mesmo um preconceito. A pessoa lê o título da matéria, vê a foto, mas não leu a matéria e já tem uma opinião. Viu o trailer e já disse que o filme é uma porcaria, sabe. E essas pessoas vão se envenenando. É um rancor. E a gente não pode ter uma atitude de embate porque se batemos de volta… é um terror. Qual a saída? Ter bom humor, eu acho. E diálogo. Quando você responde de uma forma educada, a pessoa se surpreende. É praticamente educar. Eu tenho filha… e ela precisa de informação.
No Pato Fu é assim. Há muita versão nos discos da banda. É uma coisa normal pra mim. Quando comecei a pensar no disco, cheguei a conclusão: claro, quero colocar o meu lado compositora, mas há muita música que eu quero gravar, que nunca gravei. Algumas são muito famosas, outras já foram famosas e hoje estão completamente esquecidas.