Foi ousado, eu me arrisquei muito naquele momento, mas precisava fazer uma pergunta que fosse pertinente... Ele tinha contratado essa pessoa justamente para limpar o banco do Vaticano, e, ao questioná-lo sobre a contratação de uma pessoa suspeita, queria saber como ia enfrentar [a situação].
Vamos lá...
Ilze Scamparini
Peço desculpas pelo cansaço extremo e gostaria de me apresentar em melhor forma. Mas vamos lá. (Desabafando sobre o cansaço na maratona de reportagens sobre os atentados terroristas em Paris).
Estava muito complicado, aí eu saí andando no meio dos carros, falando e costurando a matéria no meio da enchente. Fui andando, entrevistando um, entrevistando outro, uma coisa grande, eles botaram tudo isso no jornal. (Sobre a cobertura de uma enchente de verão em 1984, Na dificuldade de se locomover de carro, decidiu seguir a pé. A matéria foi feita para o RJTV.)
As pessoas da minha geração, pós-Woodstock, tinham vontade de viver algo semelhante. A gente mergulhou naquele Rock In Rio, para tirar essa diferença que nós nunca tínhamos vivido um festival daquela maneira.
Eu estava de férias no Brasil e recebi a ligação de um amigo da RAI [de Portugal] que me disse que o papa não estava bem e ia ser internado. Voltei na hora, fiquei naquele plantão de inverno, na frente do Vaticano. Sabíamos que viria a notícia e seria um evento midiático
Brasília era uma cidade muito difícil na época. Hoje é uma cidade que tem tudo, belíssima. Aceitei o convite para ir cobrir a doença do Tancredo. Cheguei lá mais ou menos na metade da agonia do presidente eleito, como segundo time de repórteres. Quando ele morreu, me lembro do caixão subindo a rampa do Palácio do Planalto, o hino cantado pela Fafá de Belém, e a tristeza imensa das pessoas, aquela ideia de que nascemos para sofrer.
Na época, era muito importante falar sobre energia nuclear e radioatividade, e eu já estava acostumada com o assunto. Fiquei o tempo todo lá, convivendo com essas pessoas. O enterro no caixão de chumbo foi uma das imagens mais dolorosas.
(Sobre os malefícios da radiação do acidente com Césio 137, em Goiânia, em 1987.)
Quem narra a história
Ilze Scamparini
O repórter é quem narra a história e é importante que ele acompanhe o fechamento da matéria.
Estávamos saindo de um período de regime duro, houve a Anistia e alguns dos nossos grandes cardeais estavam voltando para o país, outros estavam meio escondidos e tal. E essa reunião rendeu duas ou três reportagens para o Jornal Nacional e foi assim que saí do local. (Sobre a reunião da CNBB em Itaici, em fevereiro de 1982. A reportagem ganhou espaço no Jornal Nacional.)
Acho que duas coisas contribuíram para a renúncia. O Vatileaks, vazamento de documentos do Vaticano, que colocaram à flor da pele uma briga de poder muito grande lá dentro, principalmente no banco do Vaticano. E o fato dele não poder mais andar de avião. A Jornada Mundial da Juventude estava ameaçada e não tem JMJ sem papa.
Meu sonho era ser artista plástica ou jornalista.